Musicografia Braille

A inclusão é um conceito vasto, até polémico, mas que tem vindo gradualmente a assumir um significado especial no que toca à participação de alunos com deficiência no ensino superior. O surgimento de um novo paradigma associado a novas políticas, mais inclusivas, e à evolução tecnológica, tem levado ao aparecimento de centros de apoio ou estruturas especializadas para a integração/inclusão destes alunos nas diversas universidades e politécnicos.

O Instituto Politécnico do Porto foi uma das primeiras instituições de ensino superior (IES) a responder a esse desafio e sempre assumiu uma posição responsável de acompanhamento dos alunos com necessidades especiais, marcada por uma constante preocupação em facilitar os seus processos de integração na instituição, quer do ponto de vista humano, quer do ponto de vista técnico e socioeconómico.

Através do seu Núcleo de Apoio à Inclusão Digital, instalado na Escola Superior de Educação (ESE) vem, desde 2005, desenvolvendo atividades específicas de apoio ao sucesso educativo de diversos alunos com deficiência, aproveitando os seus recursos para também desenvolver diversos tipos de atividades de formação, e investigação na área das tecnologias de apoio. Por ele já passaram várias centenas de alunos, formandos, pessoas com deficiência, docentes de educação especial, terapeutas e profissionais das mais diversas áreas, na procura de um melhor conhecimento e compreensão de todos os aspetos relacionados com tecnologias de apoio, apenas possível num centro bem equipado como este.

O facto de ter desenvolvido as suas atividades desde o início com pessoas cegas, fez também com que se tornasse um centro de referência no que diz respeito a formação e treino em tiflotecnologia (tecnologia para cegos), bastante conhecido junto da comunidade relacionada com a deficiência visual e da própria associação (ACAPO) com a qual possui protocolos de cooperação. Durante os últimos dez anos foram feitos vários cursos de acesso ao computador para pessoas cegas, realizadas diversas ações de formação em Braille para os nossos alunos da formação inicial (com possibilidade de cerificação para efeitos de suplemento ao diploma) e, como não podia deixar de ser, desenvolvido muito trabalho de adaptação de recursos para alunos cegos do IPP.

Foi feito o acompanhamento da nossa aluna Sílvia durante todo o tempo da sua licenciatura em Educação Social, que obrigou a processos intensivos de digitalização de textos e materiais entregues pelos professores, com transcrição e impressão em braille ou passagem a formatos compatíveis com o software de leitor de ecrã (Jaws), para que pudessem ser lidos em computador. Tem também vindo a ser apoiado um outro aluno do ISCAP (Tiago) em articulação com a responsável pela biblioteca, por forma a garantir que todos os recursos são acessíveis. É um trabalho contínuo, que, para além de equipamento e consumíveis, exige atenção e dedicação e sobretudo a mobilização de competências específicas para trabalhar com recursos ainda mais específicos.

A chegada, neste ano letivo de 2005/2016, de mais dois alunos cegos para licenciaturas do Politécnico, mas desta vez para a área da música despoletou, no entanto, um conjunto de necessidades que até agora ainda não se tinham colocado, apesar de já termos tido, há cerca de 15 anos atrás, uma experiência com um aluno de na música.
Essas necessidades têm sido objeto de uma atenção especial por parte de todas as entidades envolvidas, presidência da escola, diretores de curso, docentes, gabinete de apoio ao estudante, SASIPP, e NAID e motivaram a elaboração de um plano/projeto que poderá vir a ser um elemento catalisador de diversas sinergias e permitir, para além de uma significativa economia de escala, o lançamento de um conjunto de atividades que vão ao encontro da verdadeira missão do IPP.

Esse projeto passa pela criação de uma estrutura técnica dedicada exclusivamente a todas as questões que estejam ligadas direta ou indiretamente à musicografia braille e ao seu ensino, na dependência do Núcleo de Apoio a Inclusão Digital. Essa estrutura deverá dispor de meios físicos (equipamentos, software, instalações) e humanos (docentes, tiflotécnicos, estagiários, ou meros voluntários) e pretende assumir-se como um centro de referência a nível nacional, mas com capacidade de intervir em contextos e programas internacionais ligados à problemática dos cegos e mais especificamente do ensino de música a cegos através do Braille.


O Código musical Braille (por vezes notado apenas com Braille music ou musicografia Braille), é um código Braille dedicado exclusivamente à notação musical. Este código permite ao cegos, definir a notação universalmente, do mesmo modo que o fazemos na pertitura,  através das marcações de células com ponto em alto relevo, característico do Braille. Permite ao músico cego ensinar, compor, interpretar e aprender através de uma notação padrão. O sistema muscial Braille foi desenvolvido inicialmente por Louis Braille no século 19. É uma área do estudo da música que está focada em prover o acesso de deficientes visuais e pessoas de visão reduzida ao material musical escrito em tinta através do sistema de grafia Braille.

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