Modelo Formativo

A classificação HEART, cujo acrónimo significa Horizontal European Activities in Rehabilitation Technology, surgiu no âmbito do programa europeu Technology Initiative for Disabled and Elderly People que tinha como pressuposto analisar o conhecimento dos profissionais acerca da utilização dos produtos de apoio. Segundo esta perspetiva, os PA têm em consideração três áreas, a saber: as componentes técnicas, humanas e socioeconómicas.

A perspetiva do modelo HEART será vantajosa em contextos académicos, porque adota uma visão ecológica inclusiva do  processo, ao analisar, não só as limitações impostas pela deficiência, mas também as barreiras do meio. O modelo HEART foi originalmente desenvolvido para a formação de profissionais em TA, no âmbito do Programa TIDE da União Europeia[1]. O conhecimento aprofundado sobre o uso das tecnologias de apoio pressupõe, por um lado, a compreensão dos seus aspectos mais técnicos (componentes técnicas), e por outro um conhecimento profundo do ser humano que utilizará a tecnologia (componentes humanas) assim como das necessidades apresentadas pelo ambiente físico e económico em que este se insere (componentes socioeconómicas).

A maior parte dos tópicos relacionados com as tecnologias de apoio inserem-se num destes temas (ex: a mobilidade através da cadeira de rodas eléctrica insere-se sem dúvida na área da mobilidade). No entanto, existem alguns tópicos cuja inclusão numa ou noutra área pode ser um tanto ou quanto arbitrária. Assim é o caso por exemplo do tópico “posicionamento” que está classificado dentro da área da mobilidade, dada a sua clara importância como pré-requisito no estudo das ajudas para a mobilidade. O conhecimento sobre este assunto, está muitas vezes ligado a aspectos puros da mobilidade. No entanto o “posicionamento” é também um pré-requisito para muitas actividades de comunicação, tais como o acesso a computadores ou a tarefas de manipulação como por exemplo, as actividades da vida diária. Nestes casos temos uma abordagem pragmática: esses tópicos são classificados dentro dos temas onde habitualmente são analisados com maior profundidade.

Nas componentes técnicas, quatro áreas principais de formação são identificadas, com igual importância.Estas áreas não são obviamente estanques e, por exemplo, pessoas com deficiências neuromotoras graves (ex. portadores de paralisia cerebral, pessoas com doenças neurológicas progressivas, etc.) poderão ter as suas capacidades afectadas, em maior ou menor grau, em pelo menos três das áreas anteriormente consideradas (ex., nas áreas da mobilidade, da comunicação e da manipulação).

1-Componentes TécnicasConsideram os recursos técnicos para o exercício de diferentes actividades.

  1. Comunicação
  2. Mobilidade
  3. Manipulação
  4. Orientação

2-Componentes HumanasConsideram os impactos causados no ser humano pela deficiência.

  1. Tópicos sobre a deficiência
  2. Aceitação da Ajuda Técnica
  3. Selecção da Ajuda Técnica
  4. Aconselhamento sobre as Ajudas Técnicas
  5. Assistência Pessoal

3-Componentes Sócio-económicas

Consideram as relações, interacções e impactos que podem ser estabelecidos entre o usuário final da TA e realidades do seu contexto.

  1. Noções básicas de Ajudas Técnicas
  2. Noções básicas do Desenho Universal
  3. Emprego
  4. Prestação de Serviços
  5. Normalização/Qualidade
  6. Legislação/Economia
  7. Recursos de Informação

[1]Educação em Tecnologias de Apoio para Utilizadores Finais – Linhas de Orientação para Formadores –  COMMISSÃO EUROPEIA DG XIII – Programa de Aplicações Telemáticas –  Sector Deficientes e Idosos – Projecto DE 3402 / EUSTAT  Deliverable D06.3

Comunicação

A comunicação é a capacidade de gerar, emitir, receber e compreender mensagens, interagindo com outros indivíduos, na sua presença ou à distância, num particular contexto social. É um processo complexo de transferência de informação usado por pessoas para influenciar o comportamento de outras.. Implica a transmissão de mensagens (pensamentos e sentimentos, ideias e desejos) de uma pessoa para outra, cujos participantes se influenciam mutuamente, durante este processo. As capacidades comunicativas são críticas no desenvolvimento e manutenção das relações sociais, na aprendizagem do viver em comunidade, e para a satisfação em geral de quase todas as necessidades humanas. Por isso, a comunicação é um processo contínuo que ocorre ao longo de todas as actividades diárias.

Muitas das pessoas com dificuldades de comunicação, podem não conseguir comunicar com eficácia utilizando os meios de comunicação humanos, mais naturais. Nestes casos as tecnologias de apoio podem permitir a essas pessoas comunicar com competência. Desenvolvimentos tecnológicos recentes em áreas tais como telecomunicações, informática e electrónica, possibilitaram um número enorme de aplicações técnicas, que podem ser úteis para resolver ou ultrapassar as limitações funcionais na comunicação. A esquema seguinte identifica alguns tópicos possíveis relacionados com este assunto.

  • Comunicação interpessoal
    • sistemas de comunicação com e sem ajuda
    • dispositivos de baixa tecnologia, tais como quadros de comunicação
    • quadros de comunicação dinâmicos, alta tecnologia
    • saída de voz: fala gravada e fala sintetizada
    • técnicas de selecção:
      1. directa,
      2. varrimento,
      3. codificada
    • técnicas de aumento de velocidade de comunicação e de predição
    • técnicas de leitura e de escrita
    • próteses auditivas
    • amplificadores de voz
    • auxiliares ópticos
  • Acesso a computador/interfaces do utilizador
    • interfaces de controlo (manípulos, joystick, track ball)
    • teclados alternativos (expandidos, reduzidos)
    • teclados e emuladores de teclados
    • ratos e emuladores de rato
    • écrans tácteis
    • ponteiros de cabeça e de boca
  • Telecomunicações
    • rádios, telefones (portátil, texto, vídeo), beepers
    • sistemas de e-mail
    • Internet e WWW
  • Leitura/Escrita
    • livros adaptados (com símbolos gráficos, em CD ou em cassete)
    • computadores com leitores de écran e fala sintetizada
    • dispositivos com saída em Braille
    • software específico
    • dispositivos de amplificação óptica
    • máquinas de leitura por reconhecimento de caracteres
    • displays tácteis
    • máquinas e impressoras Braille

 

Manipulação

Manipulação é a capacidade de um indivíduo em controlar o ambiente físico à sua volta, com o objectivo de executar uma actividade. Também se refere à habilidade para regular mecanismos de controle, usando qualquer tipo de ferramenta, independentemente da parte do corpo utilizada para esse fim .

A manipulação é um dos resultados das actividades executadas pelas pessoas com deficiência. Os mesmos autores também chamam a atenção, para o facto de que, a um nível muito básico, a manipulação refere-se muitas vezes àquelas actividades, normalmente alcançadas através do uso dos membros superiores, especialmente dos dedos e das mãos. A manipulação é considerada como o objectivo final das acções de um indivíduo, independentemente da maneira como é conseguida. A esquema seguinte apresenta alguns tópicos possíveis, que se relacionam com este tema.

  • Controlo de ambiente
    • unidades de controlo de ambiente (UCA)
    • interfaces de controlo do utilizador (reconhecimento de voz, ultra-som, manípulos)
  • Actividades da vida diária
    • cuidados pessoais (higiene; incontinência; sexualidade; vestuário)
    • trabalhos de casa (cozinhar; limpar)
    • segurança, dispositivos de alarme e de sinalização
  • Robótica
    • manipuladores e braços de controle
    • robots para actividades de escritório
    • virador de páginas
    • robots de alimentação
  • Próteses e ortóteses
    • ortóteses do membro superior
    • próteses do membro superior
    • estimulação electro-funcional do membro superior
  • Recreio e desporto
    • ajudas para jogos, ginástica, desporto, fotografia, caçar e pescar
    • brinquedos adaptados
    • instrumentos musicais
    • ferramentas para trabalhos manuais, desporto e lazer

Mobilidade

A mobilidade é a capacidade de um individuo em executar distintas actividades, associadas à sua deslocação dentro do ambiente em que se insere. A mobilidade é fundamental à qualidade de vida de cada indivíduo, e é necessária à actuação em áreas funcionais, tais como, cuidados pessoais, trabalho ou escola, assim como o brincar e o divertir.. As limitações da mobilidade funcional (tal como na comunicação) podem ser ultrapassadas ou diminuídas pelo uso das Tecnologias de Apoio Na esquema seguinte estão identificados alguns dos possíveis tópicos relacionados com este tema da mobilidade.

  • Mobilidade manual
    • cadeiras de rodas manuais
    • bengalas, canadianas, andarilhos
    • bicicletas e triciclos
    • cadeiras de transporte
    • elevadores manuais e ajudas de transferência
  • Mobilidade eléctrica
    • cadeiras de rodas eléctricas
    • ajudas eléctricas de transferência
    • interfaces de controlo para cadeira de rodas
    • braços de robot para cadeira de rodas
  • Acessibilidade
    • ajudas para acessibilidade interior e exterior
    • adaptações de casas
  • Transportes privados
    • controles especiais para condução
    • assentos especiais
    • rampas e plataformas
  • Transportes públicos
    • adaptação de veículos públicos
    • rampas e plataformas
    • elevadores
  • Próteses e ortóteses
    • ortóteses do membro inferior
    • próteses do membro inferior
    • calçado ortopédico
    • estimulação electro-funcional
  • Posicionamento
    • dispositivos de controlo postural
    • componentes dos sistemas de posicionamento
    • almofadas anti-escaras